Aprender e Ensinar na Era Digital: o Papel da Biblioteca Escolar
http://celesteferreira.wikispaces.com/file/view/aprender+ensinar+na+era+20digital.pdf
As metodologias no contexto da utilização das TIC em sala de aula
Ao refletir sobre os fatores que
influenciam a integração curricular das tecnologias de informação e comunicação
no currículo e nos esforços necessários para derrubar os obstáculos à
integração das mesmas na sala de aula e no processo de ensino e aprendizagem,
teremos de ter em conta que no cerne da questão reside uma efetiva alteração dos papeis de professores e alunos e de uma
nova forma de ensinar e aprender. Importa, pois, pensar sobre questões
metodológicas subjacentes a uma utilização profícua das tecnologias, em
contexto de sala de aula.
Para que a integração curricular seja profícua do ponto de vista das
aprendizagens significativas dos alunos e potenciadora do desenvolvimento de
competências de nível superior, não basta os professores saberem usar as TIC e
aplicá-las em contexto pedagógico. É indispensável uma alteração de paradigmas,
ancorados em novas formas de encarar os modos de ensinar e aprender, em que o
conhecimento não pode ser encarado como algo que o professor transmite e o
aluno recebe passivamente. Piaget criou a ideia de conhecimento - construção,
encarando o conhecimento como uma construção do sujeito em interação com o meio
físico e social. O aluno é um sujeito ativo, cuja ação tem dupla dimensão:
assimiladora e acomodadora, duas faces complementares entre si. Na educação, o
construtivismo toma sentido mais como um processo do que como uma teoria. A
aprendizagem é um processo de construção do conhecimento centrado no aluno,
indivíduo capaz de aprender a partir daquilo que já sabe. Vygotsky afirmava que
a interação social é fundamental para o desenvolvimento cognitivo. Ele defendeu
que a criança aprende melhor quando confrontada com tarefas que impliquem um
desafio cognitivo não muito discrepante. O professor deve, portanto,
proporcionar oportunidades para o aluno aumentar as suas competências e
conhecimentos, partindo daquilo que já sabe, interagindo com os outros em
processos de aprendizagem cooperativa. Piaget e Vygotsky partilham da mesma
visão construtivista da aprendizagem, em que a aprendizagem significativa é
aquela que ocorre, através da interação entre o sujeito, o objeto e os outros
sujeitos. Na prática pedagógica, o professor deve estar ciente que estes
pressupostos teóricos centram a aprendizagem no aluno, colocando a ênfase na
cooperação, colaboração e interação.
Trazendo estes conceitos para a área das TIC na educação, o professor tem
de ser um mediador e orientador do trabalho dos alunos, mostrando-lhes como
efetivar a construção do conhecimento, criando ambientes de aprendizagem que
potenciam a interação, pois é nos modelos centrados nos alunos que as
tecnologias poderão assumir o seu papel fundamental, permitindo aos mesmos
acederem à informação, de forma autónoma e tornarem-se pesquisadores, num
processo de construção de conhecimento.
Os ambientes de aprendizagem de orientação construtivista, claramente
baseados em conceitos pedagógicos diferentes dos que são subjacentes ao ensino
tradicional, são os mais adequados à integração curricular das TIC (Costa,
2004; Almeida e Valente, 2011), pois “a abordagem construtivista é a que tem gerado mais benefícios
e a que melhor contextualiza e aproveita os recursos tecnológicos para os
processos de ensino e aprendizagem” (Souza, 2006, p. 42). Consequentemente, um professor com um estilo construtivista terá mais
facilidade em integrar as tecnologias no processo de ensino - aprendizagem do
que um professor de estilo de ensino tradicional. (Judson, 2006, citado por
Costa (Coord.), 2008).
De facto, o que se tem verificado, é que a utilização das TIC, quando
acontece, é ainda “pouco constistente com os princípios teóricos inerentes à
perspectiva de aprendizagem, de natureza construtivista” (Costa, 2009, p. 304).
Para que isso acontecesse, a utilização do computador teria de servir como
suporte ao processo de aprendizagem ativa e significativa do aluno e ao seu
desenvolvimento intelectual, em vez de se limitar a servir de auxiliar para as
estratégias de ensino centradas no professor (Costa, 2004).
A democratização da Internet e a forte interação com a mesma por via das
ferramentas da denominada Web 2.0, que transformaram os consumidores de
informação em produtores de informação e gestores de interações complexas em
rede, fizeram emergir uma nova teoria para a era digital preconizada por
Siemens (2004). Segundo este autor, a acelerada difusão da informação e a
transformação constante do conhecimento, tornando-o rapidamente desatualizado,
exige do indivíduo novas competências e novas capacidades de conexão. O
conectivismo assenta, essencialmente, no conceito de que o conhecimento é
enredado e distribuído, e que o ato de aprender é a criação de navegação em
redes. O conhecimento é ainda apresentado como um processo de
reconhecimento de padrões e de construção de significados pelo estabelecimento
de conexões (Siemens, 2008). Coloca-se a ênfase na necessidade de garantir a
aprendizagem ao longo da vida, através da construção de redes, em ambientes
virtuais e da participação em comunidades de aprendizagem. Foca-se, ainda, na
inclusão da tecnologia como parte da distribuição da cognição, partindo do
princípio que o conhecimento pode residir fora do indivíduo. A abundância e a
rápida circulação da informação que se insere no princípio da teoria do caos,
eleva a necessidade de construção de significados, de coerência e compreensão,
em que se inscreve a preocupação primordial da aprendizagem, através de uma
construção partilhada entre comunidade ou comunidades de aprendizagem ou de
prática, num esforço de conciliar as mudanças na informação e a comunicação com
a educação. No estado corrente da facilidade de acesso à informação, mais
importante do que saber como ela se transmite é a capacidade de a selecionar e
instantaneamente aferir da sua pertinência.
O conectivismo partilha com o construtivismo a ideia de que o conhecimento
não é adquirido nem tem existência como se fosse uma coisa. No entanto, não
entende o conhecimento como prepositivo, no sentido cognitivista. Para os
conectivistas, o conhecimento consiste literalmente no conjunto das conexões
formadas pelas ações e pela experiência; pode consistir em parte em estruturas
linguísticas, mas na sua essência não está baseado nelas. As conexões formam-se
espontaneamente, por um processo de associação natural e não de construção.
(Downes, 2007).
O conectivismo implica uma pedagogia centrada na interação, caracterizada
pela autonomia do aprendente e a sua abertura à conectividade. O papel do
professor, neste contexto, é o de criar ambientes de trabalho colaborativo, em
que o conhecimento é construído com base na interação entre todos os elementos
do grupo. Para isso deve reconhecer, nas tecnologias, todas as possibilidades
que estas oferecem, identificando as práticas que possam conduzir à construção
do conhecimento.
As metodologias talhadas para a integração das TIC serão as que criam
condições para uma aprendizagem pela descoberta, baseadas em projetos de
pesquisa, através do trabalho de projeto, assente na cooperação entre os
alunos, no trabalho colaborativo e na partilha do conhecimento. Neste contexto,
o professor assume o papel de tutor e facilitador das aprendizagens.
Para que os professores possam acompanhar as constantes mudanças, os
desafios e as solicitações do meio social envolvente e que tornaram a escola um
meio quase obsoleto e para que possam “ter um espírito aberto e adaptável a
novas ferramentas que podem ser rentabilizadas no processo de ensino -
aprendizagem” (Carvalho, 2007, p.36), é necessário ultrapassar um forte deficit que
continua a verificar-se na preparação pedagógica dos professores na área das
tecnologias no nosso país, nomeadamente na formação inicial (Hammer e Costa,
2008; Costa 2009). Também a formação contínua tem revelado a “mesma situação de
formação deficitária e desaquada relativamente aos objetivos de uso do
potencial pedagógico das tecnologias ao serviço da aprendizagem” (Costa
(Coord.), 2008, p.42).
Referências
Bibliográficas:
Almeida, M. E. & Valente, J. (2011). Tecnologias e currículo: trajetórias
convergentes ou divergentes? São Paulo: Paulus.
Carvalho, A. A. (2007). Rentabilizar a Internet no Ensino
Básico e Secundário: dos Recursos e Ferramentas Online aos LMS. Sísifo, Revista de Ciências da Educação,
(3), 25-40. Disponível no URL http://sisifo.fpce.ul.pt/pdfs/sisifo03PT02.pdf
Costa, F. A. (2004). O que justifica o fraco uso dos
computadores na escola. Polifonia,
Lisboa: Edições Colibri, (7),
19-32.
Costa, F. A. (Coord.) (2008). Competências TIC, estudo de implementação (Vol. I). Gabinete de
Estatística e Planeamento da Educação (GEPE).
Costa, F. A. (2004). O que justifica o fraco uso dos
computadores na escola. Polifonia,
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Costa, F. A (2009). Um breve olhar sobre a relação entre as
tecnologias digitais e o currículo no início do SEC. XXI. IV Conferência Internacional na de TIC na Educação.
Downes, S. (3
February 2007). What Connectivism. [on line] Consultado em novembro de
2011, disponível em Half an Hour: http://halfanhour.blogspot.com/2007/02/what-connectivism-is.html
Hammer, G. & Costa, F. A. (2008). As TIC no ramo
educacional da Faculdade de Letras de Lisboa – estratégia de preparação dos futuros
professores. In: Fernando Costa, Helena Peralta, & Sofia Costa, As TIC na Educação em Portugal. Concepções e
Práticas (268-281). Porto: Porto Editora.
Siemens, G. (12 December 2004). Connectivism: A Learning Theory for the Digital Age. Acedido em
novembro de 2011, disponível em Elearningspace everything elearning: http://www.elearnspace.org/Articles/connectivism.htm
Siemens, G. (8 Septembre 2008). What is coinnectivism? Connectivism and connectve knowlegde. Acesso
em novembro de 2011, disponível em University of Manitoba: http://elearnspace.org/media/WhatIsConnectivism/player.html
Publicado 27th January por Helena Felizardo
A Construção de objetos de aprendizagem multimédia: o protótipo. “Laboratório Virtual”
Paulo Sol e J. António Moreira
https://repositorioaberto.uab.pt/bitstream/10400.2/2922/3/Moreira_J.Ant%C3%B3nio_Livro%20de%20atas.pdf
José Alberto Lencastre & Maria José Araújo
I - A cultura interactiva fica à porta da escola?
Contrastando com esta situação, quando se abre a sala de informática (vulgo sala TIC - Tecnologias
Nas TIC, os jovens orientam as suas tarefas de forma experimental — por tentativa e erro — apesar
II - A “ iTICeracia” dos professores
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